Eu não sou eu, nem sou o outro
sou qualquer coisa de intermédio,
pilar da ponte de tédio,
que vai de mim para o outro.
(Mário de Sá Carneiro)
Conversa,colóquio,conexão.Incrível como estas palavras me soam tão bem.Incrível também esta minha necessidade,esta prioridade absoluta que tenho de conversar,de me comunicar e de estar com o outro,bebendo-o, sorvendo-o,tornando-me duas e uma e duas novamente,nesta magnífica troca de informações.Sim, e infelizmente,o homem prefere construir muros ao invés de pontes,principalmente nos dias de hoje em que não podemos mais confiar em quase ninguém,onde até mesmo as crianças já nascem criando inimigos.Mas o fato é que ainda assim,para mim, o outro será sempre fonte inexorável de descobertas,e as histórias vividas e a mim contadas terão sempre imenso sabor.Eu, sempre gostei de conversar.Na rua,no ônibus,na escola,no trabalho,em casa.Desde tenra idade gostava de contar o meu dia às minhas bonecas.E no alegre colóquio,ficávamos nós a discutir premissas da vida.(As bonecas podem ser grandes ouvintes).Nunca fui uma pessoa popular,e na escola não tinha grandes multidões ao meu lado,na hora do intervalo.O que eu tinha sempre,porém,era um velho e bom amigo que comigo quisesse conversar.Apesar de tudo,o ser humano sempre me despertou curiosidade.Me encanta,a maneira como agimos de maneira igual em diversas ocasiões,mesmo sendo tão diferentes.O ser humano é um só e apesar de ter evoluído e de teimar em ver valor na cor da pele ou no volume de notas de dinheiro nas carteiras de cada um,ele é igual,quando se apaixona,quando ama,quando se deita e morre de amor. Na ponte que vai de mim para o outro,eu serei sempre o intermédio.Porque a partir do momento em que o meu eu entra em contato com o do outro eu não sou somente eu e sim uma nova pessoa, formada pelo que sou e pelo que o outro é,metade mim,metade o outro,nesta alegre e curiosa fusão.Retire de mim a minha capacidade de me comunicar e eu estarei morta.Impeça-me de exercitar minha fala e eu definharei tal como um pássaro impedido de alçar vôo em suas manhãs azuis.E afinal,ter o outro em nós é maravilhoso.E mesmo que não tenha ficado nada de mim,nenhum fragmento meu nas pessoas com as quais estive em minha vida,com as quais conversei e troquei experiências,o que sei,é que no momento em que estivemos conectados,aprendi coisas novas e acrescentei em mim,pedaços seus,fragmentos e cacos existenciais e eternos que fazem de mim o que sou hoje.Pronta para continuar mudando,cá estou eu,à espera de novas conversas,novas e sutis descobertas.
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