
Senhores de si e do mundo que o cercavam, lá iam eles pela rua com suas riquezas no bolso. Asas nos pés,enlevo de quem tem toda a vida pela frente. E tinham. Eu podia ficar a tarde todas vendo-os jogar e era incrível como aquelas bolas de gude ganhavam um status de coisa mítica, de coisa feita de sonho e devaneio. Pareciam reis,eles e tantos outros, com aquela melodia feita de vozes infantis que gritavam a todo momento,seja quando ganhavam e principalmente quando perdiam alguma partida. Nunca entendi bem como funcionava.Mas aquele que possuía apenas uma gude ao sair de casa poderia ir “matando” inimigos e voltar com o bolso cheio das benditas bolinhas.Aritmética das aritméticas!Mágica das mágicas!
Com um pouco de sorte e um outro tanto de talento,lá iam para os bolsos esferas coloridas e imagéticas,azuis,verdes,amarelas,multicores.E eu sentia um orgulho bobo,eu menina de tranças, embevecida com a felicidade dos meus dois manos…
As vezes,em dias como o de hoje,bate uma saudade tremenda daquela época.Tempo em que eles eram meus.Tempo em que os tinha por perto e à mão e que um de meus passatempos favoritos era vê-los brincar.Meus irmãos,pequenos reis da bola de gude,eu princesa envolta em meus contos de fadas.E quem diria que o tempo haveria de nos separar?Ah! meninos grandes homens!Saudade daquele tempo em que a coisa mais importante com o que se preocupar era estar ali,com a vida a passar por sob minhas retinas e com o enlevo de meus dois meninos grandes,
cheios de si,
cheios de vida.