18 de jul. de 2009

Ilha

"Ilha não é só um pedaço de terra cercado de água por tudo quanto é lado. Ilha é qualquer coisa que se desprendeu de qualquer continente. Por exemplo: um garoto tímido abandonado pelos amigos no recreio, é uma ilha. Um velho que esperou a visita dos netos no Natal e não apareceu ninguém, é uma ilha. Até um cara assoviando leve, bem humorado, numa rua cheia de trânsito e stress, é uma ilha. Tudo na gente que não morreu, cercado por tudo o que mataram, é uma ilha. Toda ilha é verde. Uma folha caindo é ilha cercada de vento por tudo quanto é lado. Até a lágrima é ilha, deslizando no oceano da cara."
(Oswaldo Montenegro)

12 de jul. de 2009

Ela gostava da chuva e a chuva gostava dela.
E toda vez que chovia era assim:
A água que descia do céu banhava o corpo envolto em manta
e a água que jorrava dentro dela encontrava a outra água,
a chuva, e juntas, banhando-se mutuamente,
elas se beijavam.

8 de jul. de 2009

Quando se começa a morrer

"A consciência se expressa através da criação. Neste mundo nós vivemos dentro da dança do criador. Dançarinos vem e vão num piscar de olhos, mas a dança sobrevive. Em muitas ocasiões quando eu estou dançando, eu me sinto tocado por algo sagrado. Nesses momentos, eu sinto meu espírito subir e se fundir com tudo o que existe. E me transformo nas estrelas e a lua. E me transformo no amante e o amado. E me transformo no vencedor e o vencido. E me transformo no mestre e o escravo. E me transformo no cantor e a canção. E me transformo no conhecedor e o conhecido. E continuo a dançar então, esta que é a eterna dança da criação.

O criador e a criação se fundem numa plenitude de alegria. E eu continuo dançando... e dançando... e dançando. Até que haja apenas... a dança." Michael Jackson in: Dangerous,1991.

Acho eu,é uma teoria que tenho,que não morremos quando chega a nossa hora. Morremos antes, aos poucos e no dia do nosso velório o que as pessoas veem é só uma decima parte do que somos e fomos. Morremos quando morrem nossos pais, nossos amigos, nossos filhos. Morremos quando um lugar que amamos não existe mais, quando aquela praça da nossa adolescência é demolida, quando aquele coreto de nossa memória é engolido por um prédio de mil janelas ou o terreno de nossa escola primária vira estacionamento rotativo. Há pessoas que por mais que nunca saibam, fazem a diferença na vida de alguém. Michael era esse tipo de pessoa. Apesar da vida conturbada, ainda assim, o que vinha à tona sempre era o seu talento, brilhando sempre mais do que suas excentricidades. Fez parte da minha vida e lembro que aos 4 anos, ao ver o clipe Triller ser exibido no fantástico, corri para debaixo da minha cama, num misto de medo e fascinação. Em cada pedaço de minha infancia ele estava lá e nos anos da adolescencia suas fotos enfeitavam uma pasta de recortes juntados com carinho ao longo dos anos. Há algo nas pessoas que viram mitos. Emblemas que são, levam consigo a marca da época em que viveram e com sua morte, findam também um período da história.Ainda não chorei o que preciso chorar e talvez sempre o faça toda vez que vir alguma imagem dele que me é cara. Morri um pouco hoje. Isso é fato. Michael leva um pouco de mim, sem nunca ter sabido da minha existencia. E eu que era apenas um ponto na multidão de fãs, desejo do fundo do coração que no fim ele tenha sentido paz. E aqui fora tudo será festa pra mim, quando uma de suas músicas tocarem, principalmente se forem de "off the Wall" meu cd preferido.Vai em paz Michael Joe jackson. Criança sofrida,adulto itinerante.