30 de out. de 2009

Rito de passagem

É como trocar de pele.Você raspa as velhas opiniões,lava a casca endurecida e varre com afinco as poeirinhas guardadas nos cantos.E assim percebe claramente quando um ciclo se fecha.A mudança de um emprego, uma casa nova,um novo amor,um novo objetivo ou curso.Passagem.Passamos de um estado à outro,de uma situação à outra e as vezes só nos damos conta quando somos pegos pela novidade ao nos olharmos no espelho:"Onde foi parar o rosto que estava aqui?".E assim a vida se renova e damos início a mais um novo ciclo.Essa semana,depois de muito tempo afinal,percebi que eu havia feito o rito de passagem.E cá estou eu,pronta para escrever com novas cores,o livro vazio que agora está em minhas mãos.É hora de arregaçar as mangas e me deixar ser invadida por esses novos ares e deixar também que eles me tragam novas situações,pessoas e sonhos.Mudar é bom,transpor o outro lado é imprescindível.Um rito de passagem obrigatório para quem quer deixar a velha vida para traz e permanecer inteira.E lá vou eu caminhar e passar para o outro lado da ponte.Sinto os comichões de curiosidade:"O que me espera do outro lado"?

Reinvenção


A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles

Ai vida minha,deixa eu te reinventar? :)

10 de out. de 2009

Balões

É como soltar um balão no espaço aberto do céu.Ver ele que antes estava aqui,na nossa mão,ir se expandindo e voando para o que antes era apenas hipótese.As vezes é assim que eu me sinto em relação à certas coisas que me acontecem.É como a criança que numa manhã nublada não quer acordar para ir à escola,é como quando nos acontece algo bom e não queremos voltar à realidade.É como comer o melhor doce e ser tomado pela culpa de ter que fazer dieta. Quando a gente faz algo que não queria fazer, quando a gente é relapso com alguém que amamos, a gente se esforça para não enxergar o que está à nossa frente e não queremos nos ver no grande espelho que a nossa consciencia nos mostra. Em dias assim o que mais queria era voltar no tempo, era recuperar os dias de festa, os dias de vento brisa. Mas acredito que no final das contas,são justamente esses momentos que nos impulsionam pra frente, que nos fazem crescer e amadurecer nossa alma.Sem eles,acho que seria muito difícil sobreviver nesse mundo em que somos postos à prova continuamente.Precisamos das cicatrizes.São elas que demarcam nosso caminho.E ainda que doloridas,não nos deixam esquecer do que fizemos ou do que nos fizeram.Toda vez que machuco alguém que eu amo, eu preciso morrer e renascer novamente,preciso dormir um sono profundo,para então acordar renovada.Ai quem me dera ter todas as respostas!Mas se teimo e se insisto, o que a vida me dá,são apenas mais perguntas.Enquanto isso,o balão que um dia foi meu risca o céu.Se um dia voltará pra mim eu não sei.Se não volta,leva pedaço de mim. E se volta,traz pedacinho de si que um dia foi meu.E quem disse que não somos feitos de fragmentos de outras pessoas?Balões coloridos cheios de ar? do nosso ar?