Um pai de família, largando mulher e filhos,sai de casa, num dia ensolarado de sol,pega seu barco,e ao passo que percorre as águas do rio turvo,se vai para longe,para nunca mais...Em "A terceira margem do rio" de Guimarães Rosa,conhecemos a história de um homem que ao se deparar com seu vazio interior,com seu caos cotidiano e enlouquecedor,opta pela terceira margem de um rio desconhecido,um universo paralelo que não é direito ou esquerdo,primeiro ou segundo,mas que é um caminho do meio,saída lógica para quando não se quer o comum,o de todo mundo.O homem resignado que sai de casa à procura de um rumo, de um sentido em toda a loucura que parecia viver, tem muito de todos nós.Lembro que ao ler pela primeira vez este conto,não pude deixar de notar e lembrar as vezes em que eu parti pelo caminho do meio.As vezes em que não podendo ter algo que muito queria,optei pelo caminho do meio,por ter algo parecido,ou que fizesse o mesmo efeito."Não se engane,a vida vai tratar-te mal",me disseram,e eu nem sabia ao certo o que essa frase queria dizer,quando comecei a perceber que a minha vida nunca seria completamente cheia de flores.Conheço pessoas que não conseguem ou não enxergam a terceira margem.Que vêem o mundo sempre de maneira dicotômica: certo X errado,Liberdade X prisão,Doença X saúde, Pecado X perdão, Deus X Diabo e assim sucessivamente.Essas pessoas enxergam apenas dois caminhos:o de ida e o de volta,não parando para perceber o terceiro caminho que é sempre possível.É como se o olhar dessas pessoas não fosse treinado para enxergar a terceira margem,como se à essas pessoas não fosse permitido a visão de um terceiro olho,caminho necessário para aqueles que não conseguem exatamente o que desejam, da maneira como desejam.A verdade é que muito raramente as coisas acontecem em nossas vidas da maneira que sonhamos.E se queremos ser felizes,é preciso estarmos alertas para os vários atalhos que nos serão apresentados em nosso caminhar.E quando se trata de amor,isso se torna ainda mais delicado e profundo.A partir do momento em que cativamos alguém,em que nos envolvemos e envolvemos alguém,temos que ter a consciência que com o amor não se brinca,pois muitos mataram,sofreram e viram suas famílias desintegradas em nome dele.O amor é coisa séria! E principalmente nele,quase sempre,temos que pegar a terceira margem,ceder aqui e ali,porque o amor não é via de mão única, sendo justamente, suas infinitas nuances e características que fazem dele um sentimento deveras singular.Da próxima vez que você se vir enrolado numa história de amor,experimente a terceira margem,experimente o caminho do meio,saiba ceder,saiba fazer concessões,costuras,remendos,emendas.O amor é isso aí.Misto de vida e destino.Terceira margem que os que sofrem procuram,cura para a loucura diária que experimentamos.
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