"Decifra-me ou te devoro",disse a esfinge;à um Édipo exausto e sequioso,por água,alento e consolo.A pergunta fatídica enfim fora feita, e a Édipo, a vida parecia sorrir enfim,pois ele,sádico e confiante,sabia a resposta.Fazendo com que a esfinge, que não contava com isso, ao ouvir estupefacta as palavras que saíam de sua boca,fosse obrigada a deixá-lo passar,adentrar a cidade em ruínas, vendo-o com o rabo dos olhos,sumir ao longe.Eu sempre achei que o segredo deste fragmento feliz da vida de Édipo(sim,porque todos sabemos o final desta triste história), o segredo que fez este incauto personagem mitológico vencer a artimanha da esfinge guardiã, tenha sido a confiança.A confiança que o sábio jovem, creditava a si mesmo.Acreditar em si mesmo, muito mais do que simplesmente saber as respostas,esse era então,o segredo maior.Quanto a mim,sempre tive muita dificuldade em acreditar nas pessoas.Vê-las com o canto dos olhos,lê-las com pedaços de alma,despi-las toda vez que com elas conversava,sempre foi um prazer.Mas este prazer limitava-se apenas ao degustar,nunca,ou quase nunca,ao confiar.Com a adolescência e a maturidade, fui perdendo isso, e passando aos poucos, a confiar mais nas pessoas.Mas foi nessa época ,e isso continua até os dias de hoje,que percebi, que confiar ou desconfiar,era o que menos importava, pois um dia vamos todos ser enganados.Seja em relação à economia,quando percebemos que o preço da gasolina aumentou ao invés de diminuir,como disseram os jornais, seja quando achamos que fomos bem naquela prova de concurso ou seja,quando descobrimos que a pessoa que estava do nosso lado não era bem o que acreditávamos que era.A vida é, toda ela feita de enganos.E, não se engane,você ainda vai ser ludibriado pelas pessoas que você ama.Um dia você percebe que mesmo os que dizem te amar,serão capazes de te virar as costas quando você mais precisar, e quando tudo estiver escuro você vai perceber também,que só mesmo você poderá ajudar-se ,somente você será capaz de se tirar da lama de uma depressão ou grande sofrimento.Quando estou assim,com os nervos à flor da pele,tudo volta.Traumas de infância, velhas tristezas,feridas e cicatrizes.E eu durmo,durmo muito.Sinto um sono horrendo e longo.Como se a cama quisesse me puxar e engolir,como se só dormindo eu conseguisse fugir do mundo cá de fora.Decifra-me ou te devoro, disse a esfinge.E eu se estivesse no lugar de Édipo,estaria agora como estou,em frangalhos,cacos de pele ou de luz.Porque definitivamente não poderia responder à pergunta da esfinge.E não,porque não saberia a resposta,mas sim,porque neste exato momento,perdi a confiança em mim.Como enfrentar a pergunta maior que me assalta toda vez que me olho no espelho? Estarei eu preparada para as dores do mundo?
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