Deste tempos imemoriais, lá estava ela. A palavra. E se no início era o verbo, depois era o sempre. Pois uma característica inerente às palavras é que elas ficam. Permanecem. Não há quem fique imune ou ausente, não há quem não se emocione ou oriente por elas, as palavras.Quanto à mim, desde sempre, sou uma apaixonada. Pela palavra cantada, a palavra conselho, a palavra amor, a prosódia, o colóquio, a conexão. As palavras me seduzem, as palavras me enredam e me prendem, as palavras me dissolvem e me formam. As palavras me descrevem.Sou capaz de dar mais valor à um papel cheio delas do que a jóias de ouro ou prata, porque à despeito das jóias que enferrujam, as palavras quando precisas, nunca perdem a data de validade. O chato é que nem sempre as palavras que ouvimos são as esperadas, nem sempre o que expressamos através delas faz bem a quem as ouve. É aí que entra uma das verdades mais universais: A palavra não tem patrão. Não serve ao bem, não serve ao mal,serve a ambos. A palavra é promíscua, é volúvel, flexível. A palavra é plástica, malemolente e corruptível. A palavra não tem dono nem lugar, a palavra é pássaro livre e errante, mas capaz de pousar inconseqüente na pele de nossa voz, quando dela precisamos. É que apesar de livre, a palavra não resiste à nossa boca. E nesse jogo de sedução permanente, ao acharmos que a seduzimos, mal imaginamos que foi ela que nos ganhou.
"Palavras são como estrelas,facas ou flores
elas tem raízes pétalas espinhos
são lisas, ásperas leves ou densas,
para acordá-las
basta um sopro em sua alma
e como pássaros
vão encontrar seu caminho..."
[Roseana Murray]