1 de ago. de 2009

O leitor



Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. (Clarice Lispector)
Palavras que habitam o silêncio.Acho que poucas pessoas no mundo experimentam um dia a adorável sensação que é a de se ter alguém que pelo menos uma vez na vida nos ouça de verdade.Isso porque há na atualidade uma total busca pelo que é rápido e solúvel, e ouvir verdadeiramente,sentar e esperar palavras brotarem dos lábios de outra pessoa é, apesar de louca aventura, quase impensável nos dias urgentes em que vivemos.Esse filme me fez pensar...Como era o meu mundo antes que eu soubesse ler?Como eu olhava as coisas à minha volta antes que soubesse seus nomes?E depois que soube,como lidei com as mudanças que isso me trouxe?Definitivamente este é o tipo de filme que me toca mais nos silêncios que sucita,do que nas vozes que me fala.A história de uma mulher e seus amantes,personificados na figura do rapaz que lê para ela,e nas palavras que começam a permear o seu mundo comum e solitário.O rapaz e as palavras que saíam dele eram os seus amores,e esse sentimento venial pertencia à ela,que entre absorta e inquieta deixava-se escravizar,ou antes escravizava o rapaz que descobria em contrapartida dois amores,o amor por ela e pelo sexo e o amor por algo dentro de si que ele não conhecia."Não sabia que era bom em algo",ele diz.O resto da trama se desenrola preguiçosamente, e o que nos fica é a singular história de amor mal costurada,daquelas histórias de amor que mal acabadas,permanecem sempre adiadas,como um daqueles contos que lemos e que acabam na melhor parte,entre uma vírgula e um ponto final que não veio.E a realidade de não saber o que está escrito num papel vira quase nada quando se tem a coragem de ler o outro,de ouvir o outro e de se deixar deleitar pela alegre fusão que há entre uma voz e letras que do papel,uma vez lidas,ganham ares de festa e se tornam músicas, e se tornam confetes,soltas que estão no ar acizentado de nossas vidas sozinhas.Palavras que quando lidas em voz alta são como pássaros no inverno:Voam para o lugar mais quente e próximo que encontram e que no filme em questão é o coração da mulher, que hávida por emoção,ouve o seu amante,para logo em seguida deitar-se com ele,emudecendo então.Porque era nesse momento,nesse exato momento em suspenso,que as palavras antes ouvidas,iam morar dentro dela,em sementes de sêmem.

6 comentários:

Jéssica disse...

Lindo texto!

A leitura também é assim pra mim, algo mágico e cheio de significados...



Há braços!

Moça do Fio disse...

Ois!
Que bom que voltou a postar, já estava sentindo tua ausência.
Este filme é lindo, ganhei de uma amiga. E ele me fez pensar, assim como fez a ti também, no quanto é maravilhoso ouvir a voz de quem gostamos. Leitura é uma das maioes preciosidades que alguém pode ter.

Beijo.

Estefane disse...

Este filme é uma obra prima e a atuação dela também. Ele me fez refletir muito, mas sobre o que ela sentiu, sentia ou tinha dentro de si. quando sai do cinema foi uma efusão dentro de mim.
As questões que vc colocou não me assomaram, no entanto, é muito belo ver que as pessoas se tocam, que mais alguém se toca.
A experiência da leitura é indefinível. Em mim, é como um encontro com o desconhecido ou com o que há tempos me habita, é um convite para ser um pouco o outro e experimentar novos seres dentro de mim mesma. Ler é revolucionar.

Abraço!

Fina Flor disse...

hummmm, me interessei, vou assistir ;o) e amo essa atriz.

beijos, bela e boa semana,

MM.

Nina disse...

Menina, eu to louca pra ver esse filme, mas quero ver num dia tranquilo aqui em casa, agora que a tv nova chegou, a nossa tava pifada :( vai ser melhor ainda...


parece tao bom nao é?? gosto mt dessa moca. Acho uma otima atriz.

Francine disse...

Oi, Manú!

Adorei esse post.
Eu assisti esse filme e gostei bastante, mas, depois que li seu post, fiquei pensando que realmente foi uma história de amor mal costurada. Mas sei lá também porque essas histórias mexem mto mais comigo do que aquelas com final feliz. é a vida.

um beijo!