18 de nov. de 2009

Palavras com asas

Carta a Manuel Bandeira, S.Paulo, 28-III-31

Manú,
Bom-dia. Amanhã é domingo pé-de-cachimbo, e levarei sua carta, (isto é vou ainda relê-la pra ver se a posso levar tal como está, ou não podendo contarei) pra Alcântara com Lolita que também ficarão satisfeitos de saber que você já está mais fagueirinho e o acidente não terá conseqüência nenhuma. Esse caso de você ter medo duma possível doença comprida e chupando lentamente o que tem de perceptível na gente, pro lado lá da morte, é mesmo um caso sério. Deve ser danado a gente morrer com lentidão, mas em todo caso sempre me parece inda, não mais danado, mas semvergonhamente pueril, a gente morrer de repente. Eu jamais que imagino na morte, creio que você sabe disso. Aboli a morte do mecanismo da minha vida e embora já esteja com meus trinteoito anos, faço projetos pra daqui a dez anos, quinze, como se pra mim a morte não tivesse de “vim”... como todos pronunciam. A idéia da morte desfibra danadamente a atividade, dá logo vontade da gente deitar na cama e morrer, irrita. Aboli a noção de morte prá minha vida e tenho me dado bem regularmente com êsse pragmatismo inocente. Mas levado pela sua carta, não sei, mas acho que não me desagradava não, me pôr em contato com a morte, ver ela de perto, ter tempo pra botar os meus trabalhos do mundo em ordem que me satisfaça e diante da infalível vencedora, regularizar pra com Deus o que em mim sobrar de inútil pro mundo.
In: MÁRIO DE ANDRADE. Cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1958, p. 269-270.)

Acho eu que é assim que tem que ser. Viver intensamente essa vida porque não se sabe quando se parte. Viver,amar e beijar.Viver,amar e amar.Respirar,sentir e desejar.A nossa vida é feita desses verbos. Há os outros também, como o cansar,adoecer,sofrer,chorar,doer.Mas esses verbos deixemo-os de lado,que a vida se faz mais urgente.Que a vida precisa ser vivida até à ultima gota.

Ps: Adorei saber que a máquina que Manuel Bandeira usava para escrever suas cartas e textos se chamava Manuela.Olha ela aqui:                                                                                                                                                       Adorei saber dessa minha xará tão ilustre! :P


6 comentários:

Taffarel Brant disse...

caramba!!! A máquina de Manuel Bandeira se chamava Manuela? Ri demais!

adouuurei a curiosidade também!
abraços

Dayane disse...

Queria eu ter uma xará tão importante assim ^^!Seu blog sempre lindo e delicioso de ser lido...

Paloma Candida disse...

tem selinho pra ti passa la´.....bj.

Dayane disse...

Estou trabalhando na exposição do Victor Brecheret,no Sesc Vl, Maraiana,em SP,e lá temos muitas cartas que Mário de Andrade e ele trocavam,pois eram muito amigos.estou aprendeno a amar esses figuras ^^.Bjo

Adri disse...

Célebre xará, mesmo! Muito chique isso!!!

Karina disse...

Olha só que honra! Ser xará da máquina de escrever de Manuel Bandeira!! Muito legal! =D

Disse tudo. Deve-se viver ao máximo, aproveitar tudo de melhor que há, mesmo com a presença dos problemas.

Beijos